“E saiu outro, um
cavalo vermelho; e ao que estava sentado nele foi concedido tirar da terra a
paz, para que se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada.”
Este só poderia ser eu. Vi no espelho minha paz refletida e dela fiz a razão
para eu agir. O espelho refletia em um
gume a paz que todos almejavam. Mas ninguém almeja a paz, não é verdade? A
ordem, a razão a calma. Ninguém nunca pediu por quietude. Para isto existe o
outro gume. Para ceifar da existência a calmaria e o pacifismo. Os homens
tiveram a sua chance e falharam. Eis que então eu surjo para minar de vez com
os padrões sociais.
Repare na criança de
rosto angelical. Repare como ela não consegue se manter quieta. Sempre agitando
de um lado para o outro sem parar um instante. Entra então a mãe gritando e
gemendo, vociferando palavras de calma, mas com a guerra estampada no teu
rosto. Seus olhos cheios de fúria demonstram que ela não quer a paz. Ninguém
quer paz. Ser pacífico neste mundo é uma sina terrível. Os seres humanos
lutaram pela força? Quiseram ser mais fortes? Quiseram se tornar deuses? Pois
bem. Que estejam prontos para a guerra. Que estejam preparados para provar a
sua força perante o mais cruel e sanguinário dos cavalheiros.
Tudo é muito diferente
da minha época. Eu não reconheço mais nada nessa terra. O mundo no qual eu
nasci é apenas uma relíquia perdida na minha mente. Eu achei que me lembraria
de algo, mas a verdade é que tudo parece tão desorganizado que só me resta
bagunçar um pouco mais. Uma senhora implora pela minha misericórdia. Ela deve
pensar que sou algum tipo de divindade. Não está errada. Cada herói de guerra
já se sentiu maior que Deus por um dia. Eu vivo a guerra dentro de mim. Eu sou
Deus em cada canto da minha personalidade. Eu olho nos olhos da idosa e lhe
peço que implore pelo que ela quer de verdade. E a velha só consegue me dizer
que quer viver. Então que assim seja. Ela pediu pela vida e é vida que ela
terá. A guerra só termina com a morte. Enquanto houver uma vida no campo de
batalha, a guerra não terá terminado.
É muito fácil trazer a
destruição. Os seres humanos já se destroem por si mesmos. Basta que um lampejo
de destruição se acenda e eles se matam. Trazer a guerra é das tarefas mais
primordiais. Basta lhes mostrar um pouco de pólvora e deixar que eles se
divirtam com as explosões. Prezando pela ordem, criaram suas armas de fogo.
Não. As explosões da guerra são apenas um espetáculo pirotécnico. A guerra de
verdade se faz com espadas. A espada ensanguentada é o símbolo do poder. É quando
o homem se sente Deus e resolve tirar mais vidas. Até perceber que existe um
outro Deus que irá lhe tirar a vida. Sem ordem. Um caos desordenado de mortes,
uma seguida da outra. Não há como saber quem será morto, mas eu deveria
garantir que a guerra iria durar para sempre. Sou eu quem deve ser o Deus da
última guerra. Desci para ceifar um deus de cada vez, sem distinção, sem
piedade. A morte já cumpriu o seu papel, espalhou o terror para que eu pudesse
levar a guerra. Sem ordem e sem esperança, basta esperar que os homens percebam
que não são Deus. Seu Deus não atenderá por vós. Esta noite, a Guerra é a lei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário