Pedro sentiu-se
atordoado por um momento. Havia uma semana, desde que tinha conhecido Felipe na
casa de uns amigos. Lembrava-se bem da ocasião. Seu melhor amigo, Henrique,
tinha insistido para que ele fosse à sua casa para conhecer a namorada nova.
Pedro estava um pouco cansado, mas aceitou ir, em consideração ao amigo. Quando
chegou na “festinha”, foi apresentado ao irmão de Priscila, a famosa namorada
de Henrique. Durante algumas horas, Pedro e Felipe estiveram em assuntos
infinitos. Um papo emendava em outro e eles conversavam por bastante tempo.
Felipe era inteligente
e interessado em literatura e música clássica. Pedro nunca pensou que poderia
encontrar outra pessoa no mundo que tivesse o mesmo interesse. Quando começaram
a conversar, ficou explicito que se dariam muito bem. Falavam de Bach e William
Shakespeare, recitavam versos decorados de Camões e riam juntos da política
internacional. Pedro tinha se encantado tanto que não reparou que havia outras
pessoas na festa. Não falou com nenhuma das garotas que passavam, não pensou em
nada além das palavras que dizia.
Na semana que sucedeu a
festa, havia encontrado mulheres lindas, e até mesmo lembrado de momentos
antigos com suas ex-namoradas. Ligou para Henrique e falaram de mulheres
lindas, futebol e, finalmente, de Felipe. Quando o assunto chegou no garoto,
não soube como se controlar. Sabia, com todas as forças que era heterossexual.
Assim tinha sido durante sua vida inteira. Não havia chances de aquilo mudar, a
menos que...
Segurou a tentação de
ligar para Felipe. Não queria que aquele sentimento trouxesse dúvidas para a
sua vida. Foi somente um papo bom e
inteligente, isso não significa estar apaixonado por alguém. Era o que
dizia para si mesmo. Mas mesmo nas palavras que dizia ele via a mentira
estampada. Pegava-se pensando nele nos momentos mais inconvenientes do dia e,
sem perceber, sentia uma movimentação involuntária no andar de baixo. Estava
realmente sentindo-se excitado ao se lembrar da conversa com Felipe.
Correu para a primeira
boate com música alta e eletrônica. Pedro nunca suportou as batidas
eletrônicas. Não havia beleza naqueles sons artificiais. Nada soava como um
doce violino. Encontrou uma garota e puxou assunto com ela. Deteve-se na
primeira fala dela: “Eu amo essa música.” Logo, pensou que estivesse no lugar
errado. “Na verdade, eu prefiro ouvir Bach.” Respondeu Pedro. “Bar? Ah, claro! Eu também gosto.Se você
quiser podemos ir para um lugar mais sossegado.”
Pedro sentiu vontade de
chorar. Correu para fora daquele lugar e olhou para as estrelas. Pensou na
mulher que acabara de conhecer, em como ela tinha demonstrado que não conhecia
nada do que ele gostava. Instintivamente, sua mente voou para a festa da semana
passada. Lembrou-se dos versos recitados, da política medíocre, do riso
consciente de Felipe. Seus olhos agrupavam uma beleza que transcendia a
aparência. Sua beleza estava escondida nas palavras bonitas que ele dizia.
Pedro olhou para o telefone, pensou mais uma vez. Não queria admitir para
ninguém o que sentia. Talvez estivesse errado. Talvez ele não fosse gay,
afinal. Talvez ele fosse alguma outra coisa.
“Alô”
“Felipe, sou eu Pedro.
Tá afim de ir para algum lugar hoje?”
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